A Luz de Umbanda continua com o projecto de dar a conhecer os Terreiros de Umbanda. Inicialmente em Portugal. É com um enorme prazer que apresento o Barracão de Xangó, sito no Algarve ( Lagoa) em Portugal.
“Porque mais um terreiro …. O início …”A história do Barracão de Xangô, não pode ser desassociada da minha história.A primeira vez que conheci a Umbanda era ainda uma criança. Minha mãe estava constantemente doente, ia ao médico mas não encontravam nenhuma explicação para as suas sucessivas doenças (infelizmente é um acontecimento ainda muito habitual dentro da medicina corrente, devido à falta de com conhecimento espiritual dos nossos médicos convencionais).A dada altura tivemos conhecimento da Umbanda através de uma amiga da Família que mora no Norte de Portugal, apresentou-nos um sobrinho, “Pai Zinho” como o tratávamos, vindo do Brasil à pouco tempo, médium de Umbanda, bem como sua mãe. Foram eles que iniciaram a minha mãe no ritual da Umbanda. Eu na altura, pequeno, apenas assistia às giras tomando os primeiros contactos com as entidades. Iniciei propriamente o meu desenvolvimento uns anos mais tarde, mas já no Algarve (região onde vivo actualmente), com uma família recém-chegada do Brasil, que na sua bagagem trazia a Umbanda. Foi no “Terreiro de Umbanda – Associação de Beneficência Filhos de Oxalá” que iniciei todo meu desenvolvimento espiritual e onde permaneci mais de 15 anos e onde empreendi tudo de bom que a Umbanda tem. Por vários motivos o terreiro teve que fechar, não tendo ficando ninguém responsável para a sua continuação.Passados alguns anos encontrei um terreiro – “Terreiro de Umbanda Caboclo Nharuê”, onde passei 2 anos como médium de trabalho e onde conheci uma das pessoas responsáveis pela abertura do nosso querido “Barracão de Xangô” hoje nossa Mãe Pequena Aida d’Ogum. Como uma das entidades responsáveis da casa (“Exú Torto”) costuma dizer que a nossa Mãe Pequena foi o primeiro resgate do Barracão.Passados uns meses de termos saído do “Terreiro de Umbanda Caboclo Nharuê” e a pedido do Caboclo “Pedra Roxa” e do “Exú Torto”, entidades espirituais responsáveis pela nossa casa, fundamos então o “Terreiro de Umbanda – Barracão de Xangô” no dia 7 de Julho de 2006 nesse primeiro trabalho foram passados fundamentos para o início de uma grande caminhada espiritual, fomos incumbidos eu e a nossa actual Mãe Pequena Aida d’Ogum em ajudar e sermos ajudados nesse árduo caminho kármico que tanto nos preenche de alegrias como de tristezas! Durante este aprendizado temos passado por muitas provações, trabalho árduo e ensinamentos mas sempre conduzidos pela protecção e sabedoria de nossos queridos mentores para que possamos transmitir aos seguidores de nossa casa, a nossos filhos de Fé, ou seja à nossa Família Espiritual que a nossa querida Umbanda além de uma religião é uma filosofia de vida...Foi então nesse encontro que foi marcada a primeira gira oficial do terreiro no dia 8 de Julho de 2006 onde foram convocados os primeiros médiuns Pai Nuno Guerreiro, Aida Currito e Isabel Guerreiro (hoje Mães Pequenas), Bruno Lima, Reinaldo Guerreiro, Luísa Recatia e Patrícia Recatia.O Barracão de Xangô – Terreiro de Umbanda a partir daí começou a caminhar com os seus próprios pés, segundo as indicações e os ensinamentos das entidades da casa. Temos cerca de 45 médiuns, 100 associados e alguns amigos solidários da nossa caminhada.Mais tarde por necessidade devido ao aumento dos médiuns e associados demos inicio à actual “Associação Barracão de Xangô – Terreiro de Umbanda” fundada em 17 de Dezembro de 2008.Além do trabalho Espiritual a associação tem levado a cabo várias actividades tais como, cesta básica de alimentos distribuída por várias famílias, angariação e entrega de brinquedos, bens essenciais materiais e roupas para instituições que trabalham com crianças e Idosos, convívios entre associados, o cabaz de Natal entre outros.Este foi o mote para a abertura não de mais um terreiro, mas sim para a abertura de um Terreiro de Umbanda. Por tudo isto continuaremos a praticar a Umbanda pela Umbanda, sem preconceito, descriminação de cor, credo ou estatuto social.Amamos a Umbanda e a ela servimos.
Barracão de Xangô
Pai Nuno de Xangô – Responsável Espiritual e presidente da AssociaçãoMãe Aida d’Ogum – Mãe Pequena Tesoureira e Secretária da Associação Isabel d’Yemanja - Mãe Pequena Márcio d’Oxossi – Chefe de Ogans
A todos os médiuns e seguidores da casa “Eu” agradeço, por existirem por serem quem são, por estarem na Umbanda, não para que sejam servidos mas sim para a servir o próximo. A Umbanda é para todos mas nem todos são para a Umbanda. “Exú Torto”. Essa é a nossa Umbanda.
Á nossa Mãe Pequena Aida d’Ogum, Eu agradeço, por seres quem és, sei que a tarefa que o Exú Torto te confiou, não é tarefa fácil. És um exemplo que todos deveríamos seguir, pois o Amor, a dedicação à Umbanda e ao Barracão de Xangô, não têm palavras. Que todos os médiuns da casa possam sentir esse mesmo amor e dedicação como marco e exemplo para as suas vidas espirituais.
A ti Mãe Pequena Isabel d’Yemanjá e Reinaldo de Xangô (meus pais carnais), “Eu” vos agradeço por terem permitido que eu crescesse não só como homem , cidadão mas acima de tudo como Umbandista.
Entrevista a Pai Nuno de Xangó:
1-Na sua opinião, o que leva as pessoas a procurarem a Umbanda? O que a distingue das outras religiões?
Na minha opinião, o que leva as pessoas a procurar a Umbanda são muitas vezes os percalços que o destino nos reserva e sem saídas muitos vão à procura do “milagre” sem saberem o que é um terreiro, qual o propósito e o fundamento da Umbanda, outros tentam encontrar uma ideologia de vida,”algo a que se agarrar”.Como se costuma dizer quem procura a Umbanda, procura pela dor mas fica por amor!
2-Considera que o povo português tem sido receptivo aos cultos afro-brasileiros?
Penso que sim, embora ainda exista uma fatia grande de pessoas que não compreendem ou nunca ouviram falar dos cultos afro-brasileiros, não existe muita divulgação ou pelo menos a divulgação mais correcta. O português desde sempre gostou de aprender e estudar assim desta forma é fácil a aceitação das varias culturas, raças e ideologias respeitando-as com tolerância mas acima de tudo respeitando o ser humano e sua forma de vida, nada como se vê no Brasil por exemplo a intolerância e falta de respeito entre religiões esquecendo-se do principal, os direitos humanos independentemente de sua religião, cor, status social, etc…
3-Na sua perspectiva, qual a melhor forma de lutar contra o preconceito e discriminação de que as religiões afro-brasileiras têm sido alvo?
Na minha opinião “luta” é uma palavra um pouco forte pois nós não temos o direito de impor a ninguém a nossa religião devemos usar essa palavra “luta” como lutar com amor, paciencia, respeito , fé e esperança. Em relação à descriminação devemos começar por nos próprios e pela nossa casa. Devemos aceitar e não pelejar pelo preconceito e a intolerância. Com que moral podemos ir para a rua, falar que são intolerantes com nossa religião ou que somos discriminados, quando somos os primeiros a permitir que isso aconteça em nossas casas, ou entre casas (terreiros, ilês, barracões, templos, roças, etc). A maioria dos preconceitos começam nas nossas casas, entre os nossos filhos é aí que o dirigente da casa deve actuar em primeiro, para depois poder com seus filhos divulgar uma forma de vida em sociedade. Todos ouvimos os Falangeiros de Zambi falar de amor, humildade, caridade.Não basta ouvir falar, temos o dever de as praticar a toda a hora, dar o exemplo, sermos tolerantes entre irmãos da mesma religião ou de outras contribuindo dessa forma para evolução espiritual do ser humano. Não podemos exigir aos outros aquilo que não conseguimos fazer.
4-Em que circunstâncias foi fundado o Terreiro de Umbanda- Barracão de Xangô?
Basta ler a nossa história… está lá tudo.
5-Que princípios norteiam o seu terreiro?
Acima de tudo, os fundamentos gerais da umbanda. Temos como uns dos grande pilares o conceito de “família”. Acima de tudo, sempre nos norteamos por este principio e todos os integrantes do Barracão de Xangô, independentemente da sua tarefa, cor, status social, faz parte da família, logo a partilha, a confiança, o respeito e a entreajuda são princípios que ao longo deste tempo vamos desenvolvendo, para juntos crescermos no amor, na fé e na caridade, como pessoas e como umbandistas que somos, respeitando a evolução e o tempo de cada um.
6-Além das habituais giras, que outras actividades o Barracão de Xangô desenvolve?
Para além das giras e como estamos também constituídos como associação, desenvolvemos vários projectos de cariz social, como por exemplo a cesta básica, que é distribuída a algumas famílias que dela necessitam, angariação de roupas e outros materiais (moveis, louças, etc) para também serem distribuídos. Temos vários workshops, como é o caso de pinturas faciais, pinturas em tecido, unhas de gel e verniz, teatro para crianças e ainda participamos mensalmente na “feira das velharias”, projectos estes que servem para angariação de fundos para o sustento de toda a ritualistica e despesas inerentes com o espaço (renda, água ,luz, manutenção).Desenvolvemos em paralelo a chamada “Ordem de Assis”. Em que o objectivo fundamental é a prática da mediunidade para a cura. Essa cura é realizada para a assistência designada pelas entidades e por um número restrito de médiuns que desenvolvem a sua mediunidade nessa vertente. A pratica da caridade na cura.
7-Qual a missão de um médium na Umbanda?
Em minha opinião o médium na umbanda primeiro deve compreender, aprender e estudar sobre a sua religião, aceitar e perceber sua condição. Quando o médium atinge essa condição é porque já soube interiorizar o objectivo da umbanda, consegue valorizar e sentir a sua missão espiritual como médium.Já compreende que a sua mediunidade desenvolvida ordenadamente, poderá servir de veículo de comunicação entre os dois planos, o espiritual e o material. O médium, desde que integrado à corrente espiritual de um Terreiro de Umbanda, torna-se parte actuante, está religado aos Orixás, às entidades por sua fé e é de suma importância para a corrente do terreiro. O auxílio aos trabalhos dos guias, orientação à assistência, canto dos pontos, apoio às crianças, etc…, são tarefas que todos os médiuns de uma corrente de umbanda devem fazer com amor e vontade. Só assim irão desenvolver e crescer como seres, como médiuns.
8-Como Pai de Santo de um terreiro, quais as maiores dificuldades que tem enfrentado?
As dificuldades são sempre enormes, e a maioria dos terreiros passam por elas, nada que com boa fé e crença não se consiga, por vezes muito devagarinho mas chega-se lá. Dificuldades tal como de um espaço com melhores condições e com outras valências para desenvolver outros projectos. A falta de apoio por parte da autarquia, e do governo.
9-Qual o maior ensinamento que a Umbanda já lhe trouxe?
A umbanda todos os dias me ensina, porque ela faz parte integrante da minha vida, não posso dissociar uma coisa da outra é um aprendizado constante. A umbanda mostra-me todos os dias o caminho, cabe-me fazer as escolhas correctas. Peço sempre em minhas orações que meu Pai Xangô não deixe a minha fé se quebrar e que eu tenha a capacidade de todos os dias ser seu interlocutor junto de quem nos procura, carregando sempre a Bandeira de Oxalá.
10- Tem algum sonho que ainda gostasse de ver realizado no seu Terreiro?
A vida é feita de sonhos. Evidente que temos e digo temos porque tenho que fazer uma pequena correcção, o terreiro não é meu, é da família Barracão de Xangô, eu apenas sou um integrante desta família, com as responsabilidades que me foram confiadas. Por isso digo temos, por exemplo a criação de um espaço de acolhimento temporário para mães solteiras, idosos, e quem por alguma eventualidade tivesse tropeçado na estrada do destino e onde pudéssemos dar o devido acompanhamento à sua situação dentro da brevidade possível para solucioná-lo.
11-Que conselhos dá normalmente, aos seus filhos de santo, nesta caminhada?
Tempo. Que cada um perceba que apesar da família, a mediunidade tem que ser desenvolvida individualmente, porque cada um tem o seu tempo, e este deriva de muita coisa. A pressa é inimiga da perfeição, não queiram estar na umbanda porque é “chique” incorporar. Acima de tudo devem aprender o fundamento da umbanda e aceitá-lo, estar preparado ou preparar-se para as mudanças das suas próprias escolhas, a Umbanda acima de tudo é um modo de vida e a aceitação da nossa condição, como ser espiritual numa experiência de uma vida humana. A família cresce em todos os sentidos com o esforço, empenho, dedicação e amor que cada médium dá ao terreiro, ao seu desenvolvimento, à sua caminha espiritual, só o tempo o irá permitir.E como diz o “Exú Torto” entidade que carrego. “A Umbanda é para todos mas nem todos são para a umbanda”. Cabe a cada um fazer suas escolhas e saber a que lado pertence, eu apenas estou ali para os orientar e passar os fundamentos recebidos ao longo destes 30 e poucos anos de umbanda.
Que oxalá abençoe a todos.
Axé
Pai Nuno de Xangô
Dirigente espiritual do Barracão de Xangô – Terreiro de Umbanda - Lagoa - Algarve - Portugal
(Entrevista Exclusiva Luz de Umbanda com André Monteiro)
Baptizado na Umbanda.
Barracão de Xangó
Homenagem a Yemanjá
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