Desde tempos imemoriais que o Homem, independentemente da sua localização geográfica no Globo, e devido á sua natureza curiosa e á necessidade de estabelecer uma ligação com o Divino, tem vindo a procurar métodos de adivinhação que lhe permitam saber o que ainda está por chegar. Por exemplo, os Vikings possuíam as Runas, os Celtas as Runas Celtas e os Egípcios o Tarot Egípcio, entre variadíssimas outras tradições.
De tudo um pouco já foi utilizado para tentar adivinhar o futuro: cartas, pêndulos, sementes, folhas de chá, bolas de cristal, oráculos, entranhas de animais, etc, fazendo-se estes métodos divinatórios acompanhar sempre de um sem número de metodologias e preceitos rituais. Garantidamente que o grau de exactidão das previsões sempre estará condicionada pela pessoa efectua a interpretação, sendo que, o que é absolutamente verdadeiro para uns, será duvidoso para outros e vice-versa.
Mas uma coisa é certa: independentemente do método utilizado, terá sempre que existir, seja de uma forma mais leve ou mais aprofundada, um fundamento que possibilite aprendizagem e definição de comportamentos necessários para a interpretação do que nos é, supostamente, colocado pelas divindades a quem solicitamos a revelação do amanhã.
No Candomblé, o sistema de comunicação com as Entidades que nos regem (Orixás), é o jogo de Búzios. Inicialmente entre os Yorubás, o sistema divinatório mais utilizado (e que em alguns locais o continua a ser) era o Oráculo de Ifá, constituído por caroços de dendenzeiro, que se jogam sobre uma tábua de madeira. Consagrado a Orúnmílá, Orixá da adivinhação, serve de porta-voz da vontade dos Santos e apenas o sacerdote máximo (Babalawô, ou Pai do Segredo em Português) o pode consultar. No entanto, devido á complexidade da sua interpretação e ás exigências extremas do aprendizado que leva ao cargo de Babalawô, a sua prática deu lentamente lugar ao nosso bem conhecido jogo de búzios, ou Caórís. O Jogo de Búzios, apesar de ter ligações com Ifá, está consagrado aos Orixás Exú e Oxum, por razões apenas conhecidas dos iniciados no Candomblé. È constituído, tal como o nome indica, por búzios tratados, que se deitam em cima de uma superfície previamente destinada e preparada para os receber, e o seu número vária conforme a nação de Candomblé em que o Sacerdote se iniciou.
Nesta prática, apenas um Babalorixá ou Yalorixá (Pai ou Mãe de Santo) poderá deitar jogo, uma vez que apenas ele/a terá tido os anos de formação técnica, espiritual e humana para entender as caídas dos búzios e, consequentemente, os Odús que se lhe apresentam. Os Odús, de forma resumida, são as combinações entre búzios abertos e búzios fechados que, perante uma determinada pergunta, mostram qual o caminho percorrido, qual o caminho a percorrer e qual o resultado possível dessa caminhada.
Não sendo tão exigente como a aprendizagem para Babalawô, não se pense que o caminho para chegar a Babalorixá ou Yalorixá é fácil. Pelo contrário! A sua duração nunca é inferior a sete anos, cheios de exigências e sacrifícios. Mas é durante esse período de aprendizagem, que o Pai ou Mãe de Santo do Yaô (iniciado) lhe vai gradualmente passando os conhecimentos necessários para a interpretação dos Odús, sempre de acordo com a sua evolução espiritual e a sua confirmação na religião, através das suas obrigações. Não existe outro caminho para se poder jogar os búzios! Nenhum livro, filme, “curso” ou percurso incompleto no Candomblé lhe poderá dar esta capacidade. Apenas a conjugação resultante de Olorum, Orixá, Candomblé e Pai / Mãe de Santo com o devido fundamento, o poderá fazer.
A Utilização do Jogo de Búzios:
O Jogo de búzios é utilizado, maioritariamente, em duas situações:
Uma primeira, num sistema de consultas, onde o Babalorixá ou Yalorixá deitam os Caórís para um consulente/cliente, que não possui nenhuma ligação com o Ilê Axê do Pai ou Mãe de Santo. A pessoa consultada apresenta um problema que o Sacerdote tentará interpretar no jogo, e se for da sua competência, descobrir a forma de o resolver, utilizando o meio que o próprio jogo lhe indicará. Uma segunda, destinada aos processos ritualísticas e de iniciação dos Filhos de Santo do terreiro. Aqui, o jogo é utilizado para identificar o Orixá dono da cabeça do filho, bem como toda uma série de informações que possibilitarão identificar os métodos para atingir a sua inclusão na religião, o seu desenvolvimento humano e espiritual, bem como a ajuda para a resolução dos seus problemas. Na nação Ketu, a sua influencia vai ainda mais longe, uma vez que é o próprio jogo que indica se uma pessoa poderá entrar para um determinado terreiro, assim como, é Ele que informa o Pai ou Mãe de Santo se o filho poderá dar o próximo passo na aprendizagem, ou seja, fazer a próxima obrigação.
Pelo explicado, certamente já entendeu que muito poucas pessoas estão devidamente habilitadas a jogar búzios. Assim, se estiver interessado em fazer uma consulta, confirme se quem lhe vai deitar o jogo, se enquadra no perfil e cumpre os requisitos indicados. Somente assim, poderá ter a certeza de que existe fundamento na leitura, e somente assim, poderá saber efectivamente qual é o seu Olorí (Orixá dono da sua cabeça). Tudo o resto é mera especulação. Se não conseguir encontrar alguém que se enquadre no explicado, talvez seja melhor optar por um outro sistema divinatório. As consequências de utilizar erradamente o jogo de búzios poderão ser extremamente nefastas, quer para o consulente e para o consultador, se eventualmente não existir fundamento na leitura, que em caso algum, deverá ser levada de forma leviana e jocosa.
Sem comentários:
Enviar um comentário