Através do culto aos
ancestrais, os Egun ou Egungum é possível reconstruir origens,
etnias, memórias. Essas memórias, enraizadas na
multiplicidade da herança negro-africana.permitem revelar
estruturas, valores, normas, denominadores comuns onde a questão
da ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma
forte comunidade. É na memória e no culto aos antepassados que essa
comunidade se afirma (Mestre Didi). Porque o objectivo principal
do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais,
agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e
seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre
a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações
entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem
clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois
níveis da existência).
No símbolo “Egungun”
está expresso todo o mistério da transformação de um ser
deste mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua
presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse
mistério (Awô)
constitui o aspecto mais importante do culto.
Vida e Morte para os
Yorubás
Os yorubá, como os
demais grupos africanos, crêem na existência activa dos
antepassados. A morte não representa simplesmente um fim da vida
humana, mas a vida terrestre prolonga-se em direcção à vida
além-túmulo, exactamente nalgum dos nove espaços do Òrun, o
domínio dos seres desprovidos do Èmì. Assim, a morte não
representa uma extinção, mas mudança de uma vida para outra.
Os antepassados ou ancestrais são denominados Òkú Òrun e
Àgbagbà, ou ainda pelo título de Ésà, usado para
reverenciar os ancestrais nos ritos de Ìpàdé, dos candomblés do
Brasil.
Um antepassado é alguém
de quem uma pessoa descende, seja através do pai ou da mãe, em
qualquer período do tempo, e com quem o ser vivo conserva relações
afectuosas. Somente alcançarão a condição de ancestral com
merecimento de culto aqueles que atingiram uma idade avançada, com
uma vida de boa qualidade e trabalho expressivo para a sociedade,
além de terem
deixado bons filhos.
Para os yorubá, um casamento sem filhos é algo mal sucedido.
Na verdade, o seu sistema
de valores tem por base três coisas: Owó (Dinheiro), Omo (Filhos) e
Àíkú (Vida longa). A Vida Longa é considerada a mais importante
porque proporciona a oportunidade que pode tornar possível as duas
outras. São esses e todas as linhagens de gerações passadas que,
depois da morte se transformam, para os seus familiares. Embora os
ancestrais compreendam membros masculinos e femininos das
gerações anteriores, os ancestrais masculinos são os mais
importantes. Ao seguirem para o Òrun, os ancestrais são libertos de
todas as restrições impostas pela terra, e dessa forma, adquirem
potencialidades que podem ser usadas para beneficiar os seus
familiares que ainda estão na terra. Por essa razão, é necessário
mante-los num estado de paz e contentamento. Quando dizemos
que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que o que existe de
facto é uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível
entre o familiar que partiu e seus descendentes que ficaram.
De acordo com o Órun ao
qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares,
agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele
continuam a se referir como Bàbá mi(Meu pai), ou Ìyá mi(Minha
mãe). Esta forma salienta o amor e a afeição que caracterizam as
relações de ambos. Trazendo ao exemplo: “Eu vou falar com o
espírito de meu pai”, mas sim, “Eu vou falar com o meu
pai”, numa prova de que continuam a ter o título de
relacionamento que tinham enquanto chefes de família.
O fim da vida na terra
envolve a questão a respeito do que se transforma o homem após a
vida actual. Todas as religiões encaram estes factos: Nascimento,
Vida e Morte( Ìbí, Ìyé, Àti Ikú), o Pós- Vida (IyèLébìn
Kú), o Julgamento Divino (Ìdájó ti Olórun) e o possível retorno
em outra vida, sucessivamente (Àtúnwa).
Ikú - Morte é visto
como um agente criado por Olodumaré para remover as pessoas cujo
tempo na Terra tenha terminado.
A morte é denominada
Ikú, e trata -se de um personagem masculino. A sua lógica é
para as pessoas mais velhas e que dadas certas condições, devem
viver até uma idade avançada. Por isso , quando uma pessoa jovem
morre, o facto é considerado uma tragédia, por outro lado, a morte
de uma pessoa idosa é ocasião de alegria.
Sobre isto, costuma-se
dizer: Ikú Kí pani, ayò I’o npa ni - “A morte não mata, são
os
excessos que matam”
“Todas as coisas que fazemos na terra, damos conta, de joelhos no
céu”
Somente quando se é
absolvido por Olodumaré é que se tem a oportunidade de se
reunir com os ancestrais, podendo-se reencarnar e renascer dentro
da mesma família.
Se alguém porém é
condenado vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com os
maus. Quando finalmente for libertado, não terá oportunidade de
viver uma vida normal e será condenado a errar, por lugares
solitários, comendo alimentos intragáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário